Famosos anônimos.Em algumas ocasiões é comum que se conheça o trabalho de uma pessoa, mas a pessoa mesma se mantenha no anonimato para a maioria. Por exemplo, muitos, provavelmente, já escutaram falar a respeito de buracos negros. Todavia, poucos saberiam dizer o nome daqueles que realizaram estudos sobre tais corpos celestes.
Situações como estas são comuns em algumas ciências, como a Física, a Química etc. Não sei exatamente o porquê, mas nessas áreas de conhecimento é habitual se estudar teorias, ignorando aqueles que as formularam. Contudo, tais ocasiões parecem estranhas na música.
Obviamente, pode haver o caso de se conhecer a música sem saber quem a elaborou. Mas não é disso que falo. Isso é normal, principalmente quando o artista está começando a carreira. Muitas vezes, inclusive, basta alguém lembrar o nome do autor e está resolvida a questão.
A situação de que falo vai mais além: muitos conhecem a música, mas pouquíssimos conhecem de fato o artista. A questão parece ficar ainda mais grave quando a canção é considerada um clássico, sendo gravada por famosos cantores, e o artista já possui décadas de carreira.
Vejamos um bom exemplo. Provavelmente, todos já ouviram a música 'Ronda', interpretada por Maria Bethânia e muitos outros: "De noite eu rondo a cidade a te procurar sem encontrar / No meio de olhares espio em todos os bares / Você não está". Ou ainda, 'Volta por cima', famosa na voz de Noite Ilustrada: "Reconhece a queda e não desanima /Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima". Entretanto, raros saberiam dizer o nome daquele que as compôs.
Assim, a fim de tentar diminuir um pouco o anonimato de tal compositor, apresento o primeiro álbum daquele que escreveu os dois sucessos acima mencionados: Onze sambas e uma capoeira, de Paulo Vanzolini.
Sinceramente, considero um mistério o desconhecimento deste artista, visto que ele é considerado um dos principais compositores de samba de São Paulo, ao lado de Adoniran Barbosa. Talvez, tal ocorrido se deva ao fato de que Vanzolini pouco tenha aparecido na mídia como cantor, dando maior importância a sua carreira acadêmica. Contudo, uma vez que muitas de suas canções já foram gravadas por cantores de renome, a situação parece não poder ser explicada apenas pelo seu afastamento dos meios de comunicação em massa.
Mas deixemos este mistério de lado. Tentar resolvê-lo, além de um árduo trabalho, parece-me inútil. Mais importante é divulgar seu trabalho para tentar reverter a situação. (Obviamente, não penso ser capaz de fazer isso divulgando um de seus álbuns no Jossa Blog; mas faço o que posso).
Onze sambas e uma capoeira, sem dúvida, é um ótimo ponto de partida para conhecer a obra de Paulo Vanzolini. Além de conter os maiores sucessos do compositor, o álbum conta com os arranjos de Toquinho e interpretações de outros grandes artistas como Chico Buarque e Cláudia Morena.
Infelizmente, a voz do compositor não pode ser escutada neste disco. Na verdade, Vanzolini possui apenas um álbum em que suas canções são interpretadas por ele mesmo. (Talvez eu o poste em outra ocasião). Entretanto, a ausência de sua voz não prejudica a qualidade da obra. De fato, esta pode ser considerada um clássico do samba paulista.
Como de costume, não darei destaque aos grandes sucessos. Recomendarei, assim, as seguintes canções: 'Samba erudito', 'Amor de trapo e farrapo', 'Napoleão' e 'Capoeira do Arnaldo'. Também gosto muito de 'Chorava no meio da rua', mas a versão de Cristina sinceramente deixa muito a desejar. Todavia, recomendo aos interessados procurarem pela entrevista de Paulo Vanzolini ao programa Ensaios da TV Cultura. Neste programa, o próprio canta a última canção mencionada de modo perfeito. (A propósito, por favor, se alguém encontrar, indique-me onde encontro também. Adoraria ter a entrevista e a música).
Enfim... O desconhecimento da pessoa de Paulo Vanzolini pelo público é lamentável. Porém, espero que a situação aos poucos seja revertida e este grande artista receba seu devido valor. Enquanto isso, aproveitem a obra!
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Ficha Técnica: Onze sambas e uma capoeira (1967)
Mais informações: Paulo Vanzolini
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