sábado, 14 de novembro de 2009

Toquinho: Boca da noite (1974)

Em defesa d'o violão.
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Antes de qualquer coisa, devo deixar claro que a defesa que farei não será do instrumento musical, como alguns podem ter pensado. Pretendo, na verdade, defender um dos cantores da dupla de bossa nova que ficou conhecida como "O poeta e o violão": Toquinho.
É comum ouvir pessoas fazendo comentários do tipo: "Toquinho deve sua carreira a Vinicius de Moraes" ou, comparando com outros cantores da época, "Diante de Chico Buarque, Toquinho deixa muito a desejar".
Não quero, de modo algum, desmerecer o talento de Vinicius de Moraes, Chico Buarque ou qualquer outro artista que será citado no presente texto. Admiro-os bastante. Pretendo apenas negar idéias como as acima citadas. Algum tempo atrás, cheguei até a compactuar com elas. Mas, após melhores pesquisas, percebi o quanto estava enganado. Hoje, talvez como forma de me redimir, sinto-me na obrigação de defender a posição oposta. Dessa forma, afirmo: Toquinho foi o artista mais completo daquele período!
Talvez, possamos afirmar que Chico Buarque e Vinicius de Moraes realmente são melhores poetas. Do mesmo modo, pode-se dizer que Tom Jobim e João Gilberto foram melhores músicos. Todavia, Toquinho não fica muito atrás. Na verdade, se podemos falar de uma superioridade daqueles em relação a este, garanto que tal superioridade é meramente quantitativa, não qualitativa. E, se compararmos todos esses artistas tomando como base a soma de suas virtudes musicais e poéticas, não tenho dúvidas de que Toquinho fica acima de todos.
De fato, Toquinho não só toca violão magistralmente. Ele também é um verdadeiro arranjador, poeta, compositor, intérprete e cantor.
Mas, como eu posso provar tais idéias? Bem... Uma das maiores provas já foi postada no blog anteriormente; trata-se do álbum Casa de brinquedos. No entanto, considero uma prova maior o álbum que apresento agora: Boca da noite.
Este disco foi lançado em 1974 e relançado em 2006 (mais uma de Charles Gavin). Naquele período, Toquinho ainda realizava parceria com Vinicius. Talvez por seus trabalhos conjuntos com o poeta, suas obras solo foram esquecidas por muitos. De qualquer forma, neste álbum é possível ter uma boa idéia do talento de tal músico.
Para começar, todos os arranjos foram elaborados por Toquinho. Sua destreza tocando violão é revelada principalmente em músicas como 'Tua imagem' e 'Asa branca'. Em 'Vamos chamar o vento' e 'Na cancela', mostra sua capacidade interpretar composições de outros. Seu talento como poeta é apresentado em canções como 'Boca da noite' e 'Noite longa', em parceria com Paulo Vanzolini, e '1969, Aeroporto do Galeão' e 'Sem enredo', composições solo. Além disso, em 'Lembrando Josh White', o compositor mostra ainda sua capacidade de circular entre estilos musicais diferentes, tocando um blues de autoria própria.
Resumindo, Boca da noite é a maior prova de que Toquinho não é um sortudo, que tornou-se famoso graças a Vinicius de Moraes. Sem dúvida, o que garantiu seu sucesso foi o seu talento. Infelizmente, a grandeza de tal artista foi melhor reconhecida pelos italianos do que pelos brasileiros.
Desta vez, não destacarei nenhuma das músicas. Ouçam o álbum do início ao fim. Tenho certeza de que não se arrependerão. É uma verdadeira obra de arte!
Por fim, deixo um desafio: se, mesmo após escutar este álbum, alguém ainda discordar que Toquinho é um dos maiores artistas de sua geração (entre as décadas de 60 e 70), comente. Justifique cuidadosamente sua idéia. E prepare-se para a discussão...
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Ficha Técnica: Boca da noite (1974)
Mais informações: Toquinho

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