segunda-feira, 22 de março de 2010

Dominguinhos: Ao vivo (2001)

A música de Pernambuco, parte 3: Forró e música regional.
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Hoje chegamos à metade desta série a respeito da música pernambucana e discutiremos um pouco sobre um dos ritmos mais populares não só do estado, mas do Brasil: o forró. Neste caso, adicionei o termo "música regional", não encontrado no site Música de Pernambuco, assim como exclui o termo "música de Carnaval" da postagem anterior.
Todavia, uma coisa é certa. Há uma observação sobre o ritmo feitas pela homepage acima citada que aproveitei totalmente enquanto escolhia a obra. "Ficou de fora o forró eletrônico, ou estilizado, por se entender que não há estilização de forró nas bandas que o praticam, que fazem lambada, e chegam a gravar sucessos internacionais dos anos 70. Portanto não se encaixam na classificação de forrozeiros". Acredito que ninguém (com um mínimo de conhecimento cultural) se oponha a tal exclusão. Afinal de contas, não há o que se apreciar em tais grupos; sinceramente, considero-os uma vergonha para o nosso estado e, por conseguinte, não os citarei no Jossa Blog. (Eu poderia até citá-los e falar mal deles, mas prefiro deixar para outro momento).
Mas, voltando a questão da adição do termo "música regional". Por que fiz isso? O forró certamente é o ritmo mais popular no interior de Pernambuco e do Brasil. Todavia, os grandes artistas do Nordeste, os grandes sanfoneiros, não se limitaram a gravar forró. Gravaram também vários outros ritmos, como o xote, que apresentam grande similaridade com aquele estilo e, da mesma forma, podem ser dançados em casal, utilizando-se passos similares etc. Além disso, pode-se dizer que o interior de Pernambuco e do nordeste do Brasil desenvolveu uma forma de fazer música própria da região. Assim, em algum casos, tais canções não são enquadradas como forró, baião ou xaxado (todas típicas das zonas interioranas da região nordeste). Contudo, quem conhece a música brasileira, é capaz de identificar como oriunda do interior do nordeste, mesmo não sabendo de que artista se trata. Seria talvez uma MPB regional.
Assim, o termo "música regional" parece-me mais adequado, uma vez que englobaria todos os ritmos típicos das regiões interioranas do nordeste do Brasil. No entanto, visto que o forró tem destaque maior, merece ser colocado em destaque.
Bem... Sendo minha justificativa convincente ou não, decidi disponibilizar o álbum Ao vivo, de Dominguinhos. Por quê? Desta vez, minha escolha do artista não foi muito difícil. Apesar das inúmeras opções, pensei logo de início em duas possibilidades: Luiz Gonzaga ou Dominguinhos, os dois maiores sanfoneiros de Pernambuco, do passado e do presente, respectivamente. (A propósito, quem tiver curiosidade, recomendo a obra Yamandu+Dominguinhos. É ótima para ter uma idéia do quão bem este toca acordeon. E, é claro, o excelente violão do músico gaúcho também contribui bastante para a beleza da obra). O meu problema maior foi escolher o disco: problemas para encontrar em CD, problemas decidi os que teriam melhores músicas... Após muito pensar, cheguei aos seguintes resultados. Primeiro, postando Dominguinhos, Luiz Gonzaga seria contemplado, visto que aquele costuma tocar muitos dos sucessos deste. Segundo, postando uma obra ao vivo, eu conseguiria contemplar o maior número de hits de ambos. Por último, a simpatia, o carisma, a simplicidade de Dominguinhos, que já tive a oportunidade de "conhecer" pessoalmente, contribuem para minha escolha. Assim, decidi pôr Ao vivo, de 2001.
Gravado no Teatro Sesc Pompéia, São Paulo, o álbum apresenta muitos dos maiores sucessos do sanfoneiro de Garanhuns. Nele, há muito espaço para o forró. Porém, encontram-se também diversas das mais importantes parcerias de Dominguinhos ao longo de sua carreira: com Chico Buarque, Djavan, Gilberto Gil, Nando Cordel. O único problema do álbum consiste no fato de muitas canções do artista, algumas das mais belas, serem executadas em pout-pourri, quando na verdade mereciam ser executadas integralmente.
De qualquer modo, tal característica não tira a beleza da obra. São 25 canções em 16 faixas. Dentre estas, destaco 'Retrato da vida', em parceria com Djavan, 'Tantas palavras', em parceria com Chico Buarque, e 'Lamento sertanejo', em parceria com Gilberto Gil. Mas, também aconselho fortemente os pout-pourri 'De volta pro aconchego - Gostoso demais - Tenho sede' e 'Eu me lembro - Zé do Rock' e 'Eu só quero um xodó', um dos maiores sucessos na história do forró. As regravações de Luiz Gonzaga também são muito boas!
Para finalizar, gostaria de deixar uma questão. Há várias teorias a respeito da origem do termo "forró". Uma delas diz que tal palavra tem origem no inglês "for all", uma vez que o ritmo se destinava a qualquer, independente de etnia, crença ou classe social. Essa história faz sentido? Já escutei outras teorias embasadas em estudos históricos, porém esta parece ser apenas uma versão popular. Se alguém conhecer alguma pesquisa sobre isso, por favor, informe-me. Eu agradeceria bastante...
De qualquer modo, espero que gostem da obra apresentada e de Dominguinhos. Sem dúvida, este pode ser considerado um dos maiores orgulhos da música pernambucana. Muito bom mesmo!
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Download: Sharebee ou MediaFire
Ficha Técnica: Ao vivo (2001)
Mais informações: Dominguinhos

2 comentários:

  1. Victor,

    mais uma vez uma excelente escolha! Essa sua serie sobre a música pernambucana veio num momento muito importante pra mim pq tou longe de casa!
    Já que vc falou em Lambada, queria ver vc falar de como surgiu esse ritmo e um pouco mais sobre a música do Pará, o que vc pensa sobre a obra de pinduca?


    Abraço!

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  2. Oi, Zé! Obrigado pelos elogios! Espero que as postagens do Jossa Blog continuem a te agradar cada vez mais.

    Quanto à questão da lambada, confesso que conheço pouco e o que conheço não gosto muito. Todavia, só conheço aqueles grupos que foram para mídia na passagem da década de 80 para 90. Acredito que haja muitas manifestações do ritmo pelo estado do Pará e, assim que possível, pesquisarei um pouco mais a respeito. Infelizmente, apesar da expansão dos meios de comunicação, tal pesquisa é um pouco complicada. A região Norte e parte do Centro-Oeste do Brasil parecem se encontrar extremamente isoladas ainda. Por incrível que pareça, sem sair de sua casa, é mais fácil ter acesso a manifestações culturais do México, Espanha ou China, embora estes encontrem-se muito mais distantes.

    De qualquer forma, gostei da sugestão de Pinduca. Ainda não o conhecia, mas achei interessante. Com certeza, escutarei mais as obras dele. Obrigado pela dica! Se tiveres mais alguma sugestão, será bastante bem-vinda.

    Por fim, gostaria de saber se és de Pernambuco e onde estás morando no momento. Tens grande contato com música? Se puderes, entra em contato pelo e-mail do blog que a gente pode conversar melhor sobre esses assuntos.

    Abraço!

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